Crianças Borboleta
Se é com asas frágeis que as borboletas voam, é de presumir que as crianças que nascem com pele de asa de borboleta , tenham então uma enorme capacidade para espalhar cor e alegria por onde passam!
Seria, talvez numa primeira interpretação feita sem conhecimento de causa, de esperar que possuíssem uma maior propensão para voar e tornar os seus sonhos realidade.
A verdade é que, ou o dia a dia das borboletas é mais complicado do que aquilo que se supõe, ou então o paralelismo entre as crianças com pele de asa de borboleta e as borboletas reside fundamentalmente na fragilidade de ambos os seres.
Mas tal como as borboletas não se privam de voar somente porque as suas asas são frágeis, também as crianças borboleta não devem ser privadas de construir sonhos, de experimentar, de conviver com outras crianças, de brincar e frequentar contextos de aprendizagem inclusivos, por forma a aprenderem a viver de forma coerente e consciente, respeitando-se e respeitando os outros, conhecendo-se e conhecendo o mundo!
A capacidade de nos defendermos e precavermos, constrói-se com o conhecimento que vamos adquirindo, ao longo da vida, acerca do que nos rodeia e dos nossos próprios limites. Ninguém aprende a defender-se se estiver privado de estímulos que suscitem essa necessidade. Aliás, uma borboleta que não voe por recear a fragilidade das suas asas, é uma borboleta que não acrescenta qualquer cor no mundo… e verá sem sentido a sua existência.
É aqui que entram as instituições de ensino, com profissionais dedicados e motivados, capazes de promover “voos” giros, seguros, orientados e vigiados. Muitas são as teorias que defendem que a acomodação de aprendizagens surge através da prática… das vivências quotidianas. A verdade é que a construção que fazemos de nós próprios não implica somente o acesso a informações. Pressupõe condições para que sejam partilhadas e postas em prática as vontades que nos preenchem, essas que nos fazem levantar da cama com objetivos simples e dão alma aos nossos dias… que nos ajudam a descobrir quem somos e qual a cor que o nosso voo poderá acrescentar ao mundo!
Se existem crianças que nascem com pele de asa de borboleta, fator que exige uma atenção redobrada por parte das famílias e das equipas educativas envolvidas, há também muitas outras crianças com fragilidades ou características diferentes, que pedem cuidados específicos no zelo pela sua saúde e na orientação do seu crescimento. Neste sentido, as Creches, os Infantários, as escolas, as faculdades… só têm de estar predispostas a corresponder positivamente às diferenças que tornam cada criança única e especial e, por vezes, basta defender a plena e serena consciência disso, aliada à espontânea pré-disposição para exercer sempre a missão educativa com dedicação, gosto e profissionalismo.
Não são as infra-estruturas que tornam uma instituição de ensino capaz de assegurar e orientar com qualidade as aprendizagens e o crescimento das crianças que não se enquadram no conceito social da normalidade. Como em tudo, são as pessoas que marcam a diferença e tornam possível o impossível! A preocupação constante, as intenções, a procura natural de informações, a entrega à profissão, o espírito de colaboração com as famílias e os valores que são assumidos coletivamente e individualmente pela equipa educativa de uma instituição de ensino são, sem dúvida, quanto baste para uma integração positiva, em contexto escolar, de qualquer criança!
Esta integração deve ser promovida com consciência e responsabilidade, tanto pelas famílias como pelas instituições educativas; e tudo deverá ser emocionalmente gerido com a naturalidade de quem assume uma missão que terá de estar sempre alicerçada sob um direito simples que pertence a todas as crianças… o direito à educação.
Cada vez mais, urge a necessidade de fazermos emergir na sociedade o respeito pela diferença, o espírito de entreajuda e cooperativismo, o bom senso, a amizade, a compaixão. Estes valores circulam de boca em boca, mas nem sempre se conjugam com as práticas pouco altruístas de uma sociedade global. E tudo começa nas Creches e Jardins-de-Infância… nos critérios de inscrição dos alunos, no posicionamento social que pode ser conscientemente conduzido dando espaço ao livre pensamento crítico, nos modelos pedagógicos soltos ou não de preconceitos e, principalmente, nos valores que são incutidos diariamente através dos exemplos de quem, assumindo ou não essa postura, desempenha o papel de “educador.
Num primeiro momento, cabe aos pais borboleta a escolha de uma instituição educativa que, além das intenções, os ajude realmente a pintar as asas dos filhos com cores bonitas, sem subestimar a sua fragilidade ou descurar o zelo pela sua integridade.
Cabe, posteriormente, à Instituição escolhida, o privilégio de ajudar os pais borboleta a conhecer as cores das asas dos filhos… lutando para que tenham condições para bater e voar, por mais frágeis que sejam.
E, por fim, cabe a todos nós promovermos a livre e igualitária integração destas crianças na sociedade.
No Infantário S. Vicente, em Alfena, podemos orgulhar-nos de trabalhar em conjunto com a família do Lourenço, para que este não cresça privado dos riscos (e dos benefícios) inerentes à sua integração num contexto escolar adequado à sua idade! Neste sentido, conscientes de que podemos até falhar em determinados momentos, tudo faremos para tentar corresponder sempre com brio, gosto e profissionalismo à exigente missão de o educar, preservando o melhor possível “as asas” que fazem do Lourenço uma criança borboleta… capaz de colorir os nossos sorrisos com as suas conquistas!
Convicto de que há cicatrizes que podem contar as peripécias de uma vida…
Prof. Tiago Nabais
Associação Feijoeiro Mágico
Infantário S. Vicente